Produzido pelo Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), projeto fruto de parceria entre Ministério da Justiça brasileiro, UNODC e PNUD, o relatório busca contribuir com o monitoramento da situação e com políticas públicas sobre o tema

Brasília, 29/01/2025 – Opioides sintéticos muito mais potentes que o fentanil e a morfina, os nitazenos foram foco de um relatório inédito apresentado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), juntamente com o Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 24 de janeiro, em Brasília (DF).
A publicação “Nitazenos: Caracterização e Presença no Brasil” apresenta informações dessa classe de Novas Substâncias Psicoativas (NSP) e traz dados nacionais e internacionais sobre a crescente identificação apreensões da droga.
“Apesar de não haver indicativos de uma epidemia de uso de opioides no país, a questão é preocupante pela potência e pelos perigos relacionados. É fundamental que haja monitoramento constante e proativo no que se refere à comercialização e uso ilícitos dessas substâncias, para enfrentar uma possível escalada da situação”, declara a titular da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), Marta Machado.
O principal objetivo do estudo é informar e apoiar a formulação de ações e o desenvolvimento de políticas de prevenção e mitigação baseadas em evidências e com foco na proteção da saúde das pessoas para, assim, reduzir os danos e os riscos associados ao uso de nitazenos.
Como estratégias para atuar preventivamente e lidar com fenômenos como este, além das ações já em andamento, como a instituição em caráter permanente do Sistema de Alerta Rápido sobre Drogas (SAR), a reconstrução do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), capacitações de peritos pelo Brasil e a modernização de laboratórios de perícia dos estados brasileiros, a Senad antecipou algumas novidades. Entre elas, o lançamento do Programa Nacional de Integração de Dados Periciais sobre Drogas (PNIDD), em parceria com a Polícia Federal (PF), e uma iniciativa em conjunto com o UNODC, para fortalecer o SAR e trocar conhecimento e experiências com países vizinhos.
Publicação
Elaborado pelo Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), projeto resultado de parceria entre a Senad, o PNUD e o UNODC, o estudo apresentado busca fomentar o conhecimento técnico sobre drogas sintéticas e NSP e apoiar o monitoramento de tais dinâmicas no Brasil.
Além de uma contextualização sobre esse grupo de substâncias, o relatório traz uma revisão bibliográfica e apresenta dados de pesquisa inédita feita junto aos laboratórios de química forense estaduais e da Polícia Federal, dos laboratórios de toxicologia forense das unidades federativas brasileiras, dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica e de grupos de redução de danos associados ao uso de drogas do Brasil.
Achados
A pesquisa destaca que as apreensões desses opioides têm se tornado mais frequentes no Brasil. De julho de 2022 a abril de 2023, por exemplo, 140 amostras de apreensões feitas pela Polícia Civil de São Paulo (SP) continham opioides. Dessas, 133 (95%) continham nitazenos.
Apesar dos desafios para a identificação de NSP, três estados – Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina, além do Instituto Nacional de Criminalística da PF, já detectaram substâncias da classe dos nitazenos. Metonitazeno foi o composto mais comumente identificado, enquanto a apresentação mais frequente ocorreu na forma de vegetal seco e fragmentado, o que sugere o uso por via inalatória (fumada).
A publicação também indica que a circulação dessas substâncias pode estar concentrada no eixo Sul-Sudeste do país e recomenda a importância de adotar medidas em múltiplas frentes para lidar com as NSP.
Globalmente, o documento aponta que, desde 2019, os países que mais reportaram novas moléculas de nitazenos ao Early Warning Advisory do UNODC foram: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Estônia, Letônia, Reino Unido e Suécia.
“A disseminação em países com estruturas de monitoramento robustas evidencia a sofisticação das redes de produção e de tráfico, que ultrapassam fronteiras e se adaptam rapidamente às medidas de controle. Nesse sentido, o UNODC acredita que compartilhar o conhecimento baseado em evidências é uma das ferramentas mais eficientes para enfrentar desafios globais”, destacou a diretora do UNODC no Brasil, Elena Abatti.
Nitazenos
Nitazenos são um grupo de NSP, do tipo opioides sintéticos, derivados do 2-benzilbenzimidazol. Embora sua aparição no mercado ilícito de drogas seja recente, essas substâncias foram inicialmente sintetizadas na década de 1950.
Desenvolvidos como potenciais analgésicos, nunca chegaram a ser comercializados como medicamentos devido, entre outros fatores, ao seu elevado potencial de abuso.
Uma característica das substâncias do grupo é a sua elevada potência, superior à da morfina e de outros opioides, aumentando o risco de overdose.
Atualmente, oito compostos desse grupo estão controlados internacionalmente pela Convenção Única sobre Entorpecentes, de 1961: etonitazeno e clonitazeno, desde a publicação original; butonitazeno, incluído no controle internacional em 2024; etazeno, etonitazepina e protonitazeno, incluídos em 2023; metonitazeno, adicionado em 2022; e isotonitazeno, incluído nas listas de controle internacional em 2021.